Eu já disse aqui algumas vezes que uma das
coisas que mais muda na vida da gente quando viramos cadeirante é o
planejamento. Devemos sempre pensar em acesso e adaptações para cadeiras de
rodas em todos os lugares que vamos ou frequentamos. Mas nem sempre só o
planejamento resolve.
Infelizmente há lugares e pessoas que tentam
passar uma imagem de acessíveis e adaptados, ou mesmo tentam ganhar clientes na
base do "enrolation". Passam informações erradas e tentam nos empurrar lugares
que não resolvem em nada nossas necessidades, acreditando que no fim das contas
não vai haver problema se faltar "uma coisinha ou outra". Mas esse tempo acabou
(ou, pelo menos, está acabando). Ninguém mais aceita gato por lebre, e o
"jeitinho" brasileiro está cada vez mais fora de moda.
E uma forma muito eficiente nos dias de hoje de
denunciar estes absurdos são as mídias sociais, como este blog, que procura
servir como um canal de exposição das más práticas e problemas de acessibilidade
encontrados por nós cadeirantes. A história abaixo foi enviada pelo Eduardo
Martins, de Sorocaba. Ele me pediu umas dicas para sua primeira viagem como
cadeirante, que ele faria em janeiro para Salvador, e passei o que sabia sobre o
avião, e sobre as necessidades que deveria exigir no hotel. Ele agradeceu, e
reservou um quarto "adaptado" em um hotel na cidade, o B Hotel, que garantiu que tinha a estrutura
necessária. Abaixo o relato do Eduardo:
"Na entrada do hotel havia uma rampa com um
grau de inclinação que não tem como subir sozinho, além de ser feito de piso
comum e escorregadio, se chover há o risco de descer mesmo travando as rodas.
Além disso, a rampa termina a 40 cm da guia, ou seja, o cadeirante vai parar no
meio da rua. Ao chegar na recepção pedi as chaves da suite adaptada, que me foi
prontamente entregue. Ao entrar tentei ligar para a recepção para saber se
estava no quarto correto, mas o telefone não funcionava e tive que voltar até a
portaria. Fui informado que sim, pois era o único que eles tinham adaptado. Mas
a única adaptação realizada foi a mudança das portas para poder passar a cadeira
e mais nada. A cama era composta por duas camas box de solteiro, que juntas
formavam uma de casal, só que as duas tinham rodinhas e com o movimento
separavam uma da outra, correndo o risco de você cair no vão entre as
duas.
No banheiro havia um box de vidro com uma porta
que mal passava uma pessoa em pé, e não havia ducha manual também. O vaso ficava
entre o box e uma pia de pedra, sem espaço para nada, e não havia nenhum local
ou barras para poder se apoiar para transferência, tinha que contar com ajuda da
minha mulher todas as vezes que precisava fazer uso e mesmo assim machucando as
costas quase todas as vezes.
Tive que tomar banho frio sentado no vaso
com a ducha íntima, me lavando da forma que desse e jogando água pra todo lado,
aumentando ainda mais o risco para voltar para cedeira depois. Já na
empresa aérea Azul fui muito bem atendido, com todos os cuidados
necessários."
É gente, infelizmente ainda temos que passar
por situações como estas, com total desrespeito ao cadeirante. Ou melhor,
desrespeito até mesmo com o ser humano, não é preciso ser expert em
acessibilidade para saber que o local é totalmente inadequado para um
cadeirante. Fica a dica, se foram para Salvador, fiquem longe do B Hotel, é
melhor pagar mais caro e procurar um hotel tipo "A".
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