
Eliana Zagui na Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação
SÃO PAULO – Aos 38 anos de idade, 36 chamando de “casa” a UTI do Hospital das Clínicas de São Paulo, a artista plástica Eliana Zagui abre seus diários – escritos com a boca – e coloca a corajosa história de vida nas páginas do livro “Pulmão de Aço” (Belaletra Editora).
A autora, que tem paralisia do pescoço aos pés, por consequência das sequelas da poliomielite, tem saído do hospital com sua maca e emocionado brasileiros de todas as partes. Na semana passada, Eliana Zagui, juntamente com seus editores, esteve na XI Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação (Reatech 2012), onde era aguardada por vários participantes que se emocionaram com os relatos no livro recém-lançado. Nessa rara oportunidade de sair do hospital, ela posou para fotos, deu atenção aos fãs e observou os estandes da Feira, sempre em cima da cama com rodinhas e auxiliada pelo respirador artificial. Sem se abater. Olhar sempre doce e sorriso idem.
A respeito dos momentos de fama, Eliana Zagui observa que está tento uma mudança radical na vida. “É bom conhecer o novo. Tenho que continuar. Perdoar é um exercício diário. É procurar conhecer e entender o outro. Isso dá alívio. O que me dá mais alegria hoje é a fé em Deus”.
Ela gosta de ler e ver filmes, mas nada de novelas. O filme predileto é “Dirty Dancing” (“Dança comigo”), com o ator Patrick Swayze. “É lindo. Pena que ele morreu”, lamenta, sobre a morte do ator, em 2009, depois da batalha contra o câncer.
O título forte do livro remete aos primeiros anos de internação. Com a paralisia, Eliana era quase incapaz de respirar. O equipamento chamado pulmão de aço, hoje fora de uso nas terapias médicas, foi a solução mais que traumática. Ela conta no livro: “O doente é colocado no aparelho, semelhante a um forno, ficando somente com a cabeça para fora. A máquina, ligada a um motor elétrico, exerce pressão negativa sobre o corpo, expandindo a caixa torácica e forçando a entrada de ar”.

Natural de Guariba, no interior de São Paulo, Eliana chegou ao Hospital das Clínicas aos dois anos de idade, depois de peregrinação dos pais por hospitais. Com o diagnóstico tardio de poliomielite chegaram também as primeiras sequelas, motivo pelo qual passou a morar em uma UTI. Os pais vivem na mesma cidade, e Eliana, por quase 40 anos, foi raríssimas vezes ao encontro deles.
Erradicada no Brasil em 1989, a poliomielite é uma doença causada por vírus e transmitida por meio do contato direto com secreções de pessoas infectadas. Com a manifestação da doença, ocorre a paralisia muscular e os membros, sem estímulos, vão definhando.
Com os poucos movimentos restantes e perseverança de sobra, Eliana aprendeu a ler e a escrever. Ela concluiu o ensino médio, aprendeu idiomas. Agora, sonha cursar Psicologia on line.
Com uma palheta na boca, ela escreve com belo letreiro, pinta, usa o celular e o computador. “Escrevia com a boca como um desabafo no caderno”, diz Eliana Zagui.
Ela divide o quarto da UTI com o “verdadeiro e eterno irmão”, o também interno Paulo Henrique Machado, 44 anos, que chegou ao hospital no início dos anos 1970, diagnosticado com a mesma enfermidade.
Ambos são sobreviventes e considerados um dos moradores de hospitais mais antigos do Brasil, conforme conclusões de pesquisas realizadas pelos editores do livro. A história de Paulo Henrique é contada por Eliana em um dos capítulos.
O livro, que pode ser comprado no site www.belaletra.com.br, começa a ser distribuído em grandes livrarias. A ideia de publicá-lo veio dos próprios editores, os jornalistas Ana Landi e Eduardo Belo.
“Há três anos, vi uma reportagem sobre os mais antigos moradores de UTI do Brasil, em um programa de TV, e nele estava o depoimento da Eliana”, conta Ana Landi.
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